A maioria dos estudos que comparou os efeitos de rações com baixo e alto teor de amido nas últimas 3 semanas antes do parto (nível elevado de forragem) concluiu que a quantidade de calorias consumidas tanto antes como após o parto aumentou, sobretudo devido ao aumento do consumo de matéria seca. Em geral, a quantidade de gordura mobilizada (conforme observado através do monitoramento de ácidos graxos não esterificados no sangue e do acúmulo de gordura no fígado) também diminui, refletindo uma melhora da condição energética da vaca. Os amidos são convertidos em propionato no rúmen da vaca, que é o principal precursor da produção de glicose no fígado. A maioria dos carboidratos estruturais em forragens é convertida em acetato – o que é bom para auxiliar na gordura do leite, mas a vaca não consegue utilizá-lo para produzir glicose.
Até quanto se pode aumentar o teor de carboidratos não estrutural/CNE (quase equivalente ao aumento do teor de amido na maioria dos casos) na dieta pré-parto e pós-parto?
A maioria das orientações sobre nutrição sugeriria que o teor de CNE nas últimas 3 semanas antes do parto seja mantido entre 33 e 38% da ração.
Em estudo realizado por Minor et al., 1998 utilizou rações pré-parto com 43,8% de CNE em comparação a outra com apenas 23,5%. O consumo de matéria seca no período pré-parto subiu de 10,2 kg/dia para 13 kg/dia com o aumento do teor de amido na ração. As vacas que receberam as rações com alto teor de CNE antes e após o parto também tiveram um aumento de aproximadamente 2,26 kg na produção de leite/dia. Como as vacas se adaptaram à dieta com maior teor de amido antes do parto, foi possível transferí-las para uma dieta pós-parto com 46,5% CNE sem que sofressem acidose ruminal e laminite. Contrariamente, a mudança de uma dieta com ração pré-parto com 23,5% de CNE para uma pós-parto com 41,7% CNE provocou laminite. Isso mostra que as alterações no teor de energia não devem ser drásticas. As vacas conseguem processar rações com alto teor de amido, mas precisam de tempo para se acostumar às com maior teor de nutrientes.
É improvável que o aumento do teor de amido na ração pré-parto cause acidose ruminal no período antes do parto, devido ao baixo consumo total das vacas secas. Porém, incluir mais amido geralmente significa reduzir o teor de fibra (FDN) da ração, sendo que é aí que reside o problema, pois isso pode aumentar a suscetibilidade do rebanho ao deslocamento do abomaso. O segredo é administrar uma forragem que forneça o teor adequado de fibra efetiva (ou seja, partículas maiores de 3,8 cm) de comprimento que ajudam a formar uma camada flutuante na parte superior dos fluidos ruminais), e que não seja tão comprida, mas palatável para não ser deixada de lado pelas vacas. Em alguns casos, o acréscimo de palha limpa de boa qualidade consegue suprir o teor adequado de fibra efetiva, ao mesmo tempo em que dá espaço para a adição de amido tanto na ração pré-parto como na pós-parto. A silagem de alfafa, bastante palatável, pode não suprir fibra efetiva suficiente para formar uma boa camada no rúmen, sendo essa camada essencial para a prevenção do deslocamento do abomaso a esquerda. A silagem de milho cortada com menos de 1,27 cm de comprimento também não contribui muito para a formação da camada flutuante no rúmen.
- Recomendação-padrão e segura: As rações nas últimas 3 semanas pré-parto devem conter 35-38% de CNE. O teor total de FDN deve ser no mínimo 33%, de preferência com 26% de FDN na forragem. O teor de CNE na ração para o período pós-parto imediato pode ser seguramente aumentado para 40-42%. Em dietas para vacas recém-paridas o teor de FDN deve ser mantido acima de 27% e no mínimo 21% da ração em FDN na forragem.
- Recomendação extrema: As rações nas últimas 3 semanas pré-parto devem conter entre 38 e 42% de CNE. O teor total de FDN deve ser no mínimo 30% e de preferência manter pelo menos 26% de FDN na forragem. O teor de CNE na ração para o período imediato pós-parto pode então ser aumentado para 44%. Nesse caso também, o teor de FDN na dieta de vacas recém-paridas deve ser mantido acima de 27% e no mínimo 21% da ração em FDN na forragem.
É imprescindível que sejam administradas forragens nesse tipo de estratégia de dieta para vacas no pré-parto como para vacas recém-paridas!! Pode ser necessário acrescentar feno de gramínea ou palha picada a essas rações para garantir o fornecimento adequado de fibra efetiva. Em geral, esse tipo de estratégia é muito perigoso para ser recomendado.
As hipóteses mais recentes são que o segredo para prevenir o acúmulo de gordura no fígado é evitar uma queda drástica do consumo alimentar (mesmo se a redução for de um consumo elevado para um intermediário). Limitar a ingestão de ração com alto teor energético parece funcionar tanto quanto a alimentação ad lib de tal ração (Holcomb et al., 2001). Contudo, a restrição alimentar não é um procedimento prático nas fazendas, pois uma vaca sempre obtém mais alimento do que as outras mais fracas do rebanho. Uma forma de “limitar” o consumo alimentar das vacas nas últimas 3 semanas de gestação é administrar ração com maior teor de forragem. A idéia é que a vaca vai comer para atender suas necessidades de energia e para conseguir essa energia, ela vai consumir quantidades bem grandes da dieta com forragem e continuar “com fome”, com a aproximação da data do parto e do início da lactação. O consumo diário de matéria seca no pré-parto é menor em comparação ao de vacas que recebem ração com maior teor de amido. Porém, os defensores dessa estratégia acreditam que a diminuição do consumo de matéria seca nos dias imediatamente anteriores e posteriores ao parto é menos grave nas dietas com alto teor de forragem. Tais dietas realmente parecem ser capazes de reduzir a incidência de deslocamento do abomaso no início da lactação. Uma preocupação é que a alteração de uma dieta pré-parto com menor teor energético para uma ração de lactação de alto teor energético é uma mudança grande demais, que provoca acidose ruminal. Entretanto, essas dietas aparentemente não causam maior incidência de acidose ruminal.
A idéia por trás dessa estratégia é que os músculos e outros tecidos do corpo conseguem queimar a gordura da dieta para obter energia em vez da glicose no sangue. Infelizmente, a maioria dos estudos não mostra nenhum benefício e talvez um certo aumento do teor de ácidos graxos não esterificados no sangue, quando se adiciona gordura (foram pesquisadas tanto a protegida como a não protegida no rúmen) à dieta das últimas 3 semanas de gestação (Skaar et al., 1989). Estudos realizados em vacas no início do período da lactação também não são animadores, pois a adição de gordura geralmente reduz o consumo alimentar nessa época (Salfer et al. 1995). Como os animais estão se alimentado bem, a adição de quantidades limitadas de gordura à ração geralmente aumenta a produção de leite e melhora as condições corporais.
As vacas recém-paridas perdem quantidades significativas (27 – 36 kg) de músculo nas primeiras semanas de lactação. Elas utilizam os aminoácidos dos músculos para produzir glicose. Essa estratégia sugere que, com a administração de uma ração com alto teor protéico antes do parto, conseguimos criar reservas nos músculos que podem ser utilizadas no início da lactação produzir glicose. Foram realizados vários estudos que indicam menos cetose e menor perda da condição corporal, quando se aumentou o valor protéico da dieta nas últimas 3 semanas de gestação para 16-17% de proteína bruta, sendo 38-44% não degradável no rúmen (Van Saun, et al., 1993, Holtenius et al, 1993, Vandehaar et al., 1999). Alguns desses estudos foram dificultados por alterações no valor energético e protéico nos tratamentos com “dietas de alto teor protéico”. Infelizmente, uma revisão da literatura técnica produzida nos últimos tempos não confirma o aumento do teor de proteína na dieta (seja como não degradável no rúmen, seja quando se adicionam aminoácidos essenciais) pré-parto como forma de melhorar as condições de saúde ou a produção de leite. A maioria dos estudos sugere que não há ganho com o aumento do teor de proteína bruta ou degradável no rúmen na dieta nas últimas 3 semanas de gestação, sendo que alguns indicam que dietas com alto valor protéico são até prejudiciais às vacas (Putnam et al., 1999, Greenfield et al., 2000).
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